10 de mai. de 2012

Conselho aos Governantes


CONSELHO AOS GOVERNANTES

No ano de 2006, tive acesso a um livro da coleção Edições do Senado Federal, Volume 15, intitulado CONSELHO AOS GOVERNANTES. Este livro reúne textos escritos por grandes pensadores de nossa história, no intuito de educarem os chefes de governo de suas épocas, nele temos textos de Platão, Maquiavel, Mazarino, Maurício de Nassau, Marquês de Pombal, dentre outros homens que contribuíram e, ainda contribuem, com preciosos saberes.
Dentre todos os textos lidos, um em especial me chamou a atenção, é a carta que Isócrates enviou a Nicoclés, o então rei de Salamina, na ilha de Chipre. Transcrevo sempre em meus materiais promocionais, um resumo com as passagens que eu julgo mais importantes deste texto a serem transmitidas aos meus clientes e, também, a qualquer um que se inicie na vida política.

Resumo do texto de Isócrates:
Isócrates-nascido em 436 a.C. e falecido em 338 a.C.- enviou a Nicoclés, rei de Salamina, na ilha de Chipre, recomendações para que o novo governante tivesse sabedoria em seu governo:

“...1. Um rei deve saber julgar de maneira original, não medindo o valor dos homens e das coisas pela comodidade que lhe oferecem, mas pela sua utilidade...
2. Todos concordarão, creio eu, em que o primeiro dever dos reis, quando a sua pátria é infeliz, é remediar os seus males; quando é próspera, mantê-la na prosperidade; quando é fraca, torna-la potente.
3. Administre o seu reino como se administrasse a herança recebida do seu pai. Seja magnífico e régio em todas as suas disposições...
4. Creia que a grandeza de alma não está nos homens que empreendem mais do que podem executar, mas naqueles que, perseguindo com ardor o que é nobre e grande, podem executar o que empreendem.
5. Considere os mais fiéis amigos, não aqueles que aprovam todas as suas palavras e elogiam todas as suas ações, mas sim os que censuram os seus erros.
6. Prefira deixar aos seus filhos um nome glorioso do que grandes riquezas. As riquezas são perecíveis, a glória é imortal. As riquezas podem ser adquiridas pela glória, a glória não se compra com riquezas...  
7. Ao escolher quem deva encarregar-se de negócios que não administra pessoalmente, nunca perca de vista que você é quem arcará com a responsabilidade dos seus atos.
8. Em todas as suas ações, lembre que você é rei e tenha todo o cuidado para não fazer nada que seja indigno dessa posição suprema...”


Aos que gostaram do resumo, trago abaixo o texto em sua íntegra. É um convite a reflexão do verdadeiro papel dos gestores públicos, estejam eles na esfera Legislativa, Executiva ou Judiciária!

ISÓCRATES
A Nicoclés
Tradução do francês de
Jean-François cleaver

Isócrates
Isócrates – nascido em 436 a.C. e falecido em 338 a.C. – fora amigo de euágoras, rei de Salamina, na ilha de Chipre.
Com a morte deste, subiu ao trono seu filho, Nicoclés.
Isócrates enviou, então, ao novo soberano, que havia sido seu aluno, recomendações, e o fez anotam os analistas, sem antes formular as lisonjas autorizadas ou, até, impostas pelo costume a quem se dirigiam a governante. Agiu assim por sua independência de caráter, por uma grande estima a Nicoclés ou por se julgar com permissão dada sua condição de antigo mestre.
O aluno, agradecido, enviou-lhe sessenta talentos de ouro.

Introdução
1.      Caráter deste discurso, que se destina a ministrar preceitos sobre os deveres dos reis, e vantagem de tal presente em relação àqueles que se costuma oferecer. Os homens de condição privada têm numerosas oportunidades de aprender sobre seus deveres. Os reis, que exercem a mais difícil missão na terra, não têm praticamente nenhuma oportunidade de fazer o mesmo. Por isso, os reis, que poderiam ser os homens mais felizes, levam vida extremamente atribulada, sendo completamente errôneo o juízo da multidão sobre as suas condições de vida.
2.      É tarefa louvável ensinar o que devem procurar ou repudiar os reis em geral, ainda quando a execução seja pálida reflexa do escopo.
3.      Preceito, primeiro objeta a que devem aspirar aos reis, que é como a fonte dos seus deveres.
4.      Para alcançar esse objeto, o rei deve tornar-se superior aos outros, cultivando o seu espírito e convivendo com homens destacados pela sabedoria.
5.      Os reis devem amar o seu povo, protege-lo, mantê-lo no dever, honrar os homens virtuosos, defender os cidadãos de qualquer ofensa.
6.      Regulamentos, institutos, leis, negociações, processos, juízos; regras de administração do Estado. Objetos nos quais devem manifestar-se a magnificência dos reis. Maneiras pelas quais se devem honrar os deuses.
7.      Os homens a que convém prestigiar. A guarda mais segura para os reis. As riquezas dos particulares devem ser protegidas. O zelo pela verdade. A conduta para com os estrangeiros. A clemência com os cidadãos. Quando, e de que maneira, convém fazer guerra; moderação e isenção.
8.      Escolha dos amigos e dos homens que privam com os príncipes, escolha dos magistrados e ministros. Há que ouvir o que os homens dizem uns dos outros, punir os caluniadores e saber mandar em si mesmo.
9. As ocupações de que devem gostar os reis. Coisas nas quais devem esforçar-se por chegar à superioridade. Honras que devem ser buscadas. Tendências que devem ser dissimuladas. Inclinações que devem ser reveladas. A moderação dos reis é exemplo para os cidadãos. Caracteres pelos quais se reconhece um bom governante. Há que deixar de herança, para os filhos, glória antes que riquezas. Magnificência no vestir. Severidade nos hábitos de vida. Continência no falar e nos atos. Moderação que deve ser observada em todas as coisas.
10.      Urbanidade com gravidade. Tipo de estudo que os reis devem preferir. Maneiras mais conveniente de ilustrar-se.
11.      A superioridade do espírito sobrepõe-se à beleza do corpo. Os reis devem praticar o que aprovam, o que consideram digno de emulação, o que prescrevem aos seus filhos. Quem são aqueles que podem ser considerados sábios.
12.     Epílogo. Em preceitos desta natureza, o que se procura não é tanto apresentar ensinamentos novos como reunir, de toda parte, o maior numero possível de ensinamentos, para oferecê-los sob forma capaz de agradar. Há conselhos que são úteis, mas não agradam a quem os recebe.
13.     Esse fato decorre da perversidade dos homens, que desejam o que lhes traz prejuízo e têm aversão ao que lhes é útil. Disso resulta que aquele que deseja agradar à multidão deve, como Homero, oferece-lhe fábulas e converte-las em ação, como fizeram os poetas trágicos.
14.       Um rei deve saber julgar de maneira original, não medindo o valor dos homens e das coisas pela comodidade que lhe oferecem, mas pela sua utilidade. Os homens devem ser estimados, antes de tudo, pela prudência e oportunidade dos seus conselhos. Um conselheiro sábio deve ser preferido a qualquer outro bem.
15.  Este presente é diferente dos outros, na medida em que ganha mais valor com o uso, em vez de desgastar-se. [Lange]
     
II
1.   Nicoclés, aqueles que soem trazer-lhe, bem como os outros reis, ricos tecidos, bronze, ouro lavrado com arte e outros objetos da mesma natureza, raros em sua casa e abundantes na sua, estão evidentemente traficando, e não presenteando-o, pois na realidade estão vendendo aquilo que lhe oferecem com muito mais habilidade que os homens abertamente dedicados ao comércio. Quanto a mim, pensei que, se eu pudesse definir corretamente os deveres de que deve cuidar e os atos de que deve abster-se para governar sabiamente Salamis e seu reino, estaria dando-lhe a prenda mais bela, mais útil, a que mais convém eu oferecer e você aceitar.
Muitas coisas contribuem para educação dos simples particulares, em primeiro lugar, uma vida isenta de moleza e sensualidade e a obrigação de prover as necessidades cotidianas; em segundo lugar, as leis que a todos nos governam, a liberdade que têm os amigos de dirigirem-se reparos e os inimigos de acusar-se pelas suas respectivas faltas; por fim, os preceitos relativos à condução da vida, deixados por alguns dos antigos poetas: coisas essas em que os particulares encontram naturalmente meios de aprimorar-se. Já os reis não contam com os mesmos recursos, eles que, mais do que os outros homens, precisariam de aviso, vêem-se privados desses tão logo sentam no trono. A maioria dos homens fica distante deles; os que deles privam só se aproximam para lisonjeá-los; e, transformados em donos das mais fartas riquezas e árbitros dos maiores interesses, fazem tão mau uso desses meios de poder que muitos se perguntam se não se deve preferir, à existência dos reis, uma condição vulgar e uma vida ilibada. Sem dúvida, atentando somente para as honras, as riquezas, a autoridade, todos os homens iguais a deuses aqueles que foram investidos da potência soberana; quando, entretanto, considerarmos os seus receios, os perigos que correm e, lembrando o passado, os vemos ora sendo atacados por quem menos deveria ameaçar a sua vida, ora obrigados a punir os seus entes mais amados, ora condenados a ambas as desgraças, somos levados a pensar que a mais modesta existência é preferível ao domínio de toda a Ásia, acompanhado de tamanhas calamidades.
A causa dessa desordem, dessa confusão, reside na opinião, muito comum, que a realeza é igual às funções sagradas, que qualquer homem é capaz de exercer, quando na verdade a realeza é a mais alta de todas as funções, a que requer mais sabedoria humana.
2.   Apresentar-lhe sobre a condução de cada negócio, para que o leve a diante com prudência, garanta o seu êxito e previna as suas conseqüências nefastas, é dever dos homens que soem estar no seu lado. Quanto a mim, tentarei indicar-lhe no geral as virtudes para as quais deverá tender ao longo de sua vida e os cuidados que devem ocupá-lo. Será o trabalho que quero oferecer-lhe digno da grandeza do tema, uma vez concluído? Eis algo difícil de enxergar desde o início. Muitas obras, em versos ou em prosa, que tinham suscitado altas esperanças quando só existiam no pensamento do seu autor, só obtiveram, uma vez acabadas e dadas à luz, fama muito inferior à esperada. Mas, de qualquer maneira, é empresa honrosa procurar lançar luz sobre verdades pouco lembradas e estabelecer princípios úteis para o governo das monarquias. Os homens que instruem os simples particulares são úteis apenas aos que recebem os seus conselhos; o homem que pudesse levar os chefes das nações à virtude seria útil aos príncipes, que comandam, e aos povos que obedecem, tornando assim o poder mais seguro, para uns, e mais ameno o governo, para outros.
3.   É preciso considerarmos, inicialmente, o que é o dever dos reis, pois se assentarmos bem, em poucas palavras, aquilo reside a potência da realeza, sem perdermos de vista este ponto, desenvolveremos melhor as diversas partes do nosso tema.
Todos concordarão, creio eu, em que o primeiro dever dos reis, quando a sua pátria é infeliz, é remediar os seus males; quando é próspera, mantê-la na prosperidade; quando é fraca, torna-la potente. A ação cotidiana do governo deveria ter esses escopos; é evidente que os que receberam tamanha potência e devem decidir de tamanhos interesses não devem abandonar-se à moleza e ao ócio, mas sim zelar por que ninguém os supere em sabedoria; com efeito, é inegável que a prosperidade de seu reino terá a mesma medida que a sua habilidade. Por isso, os atletas têm menos interesse em fortificar o corpo do que têm os reis em desenvolver as faculdades da alma, e os prêmios oferecidos em nossas solenidades, não são nada, quando comparados com os que você procura conquistar diariamente.
4.   Compenetrado dessas verdades, dedique a sua força de espírito a colocar-se, pelas suas virtudes, acima dos outros homens, tanto quanto os supera pela posição; e não creia que o cuidado e a aplicação, tão valiosos em todas as outras situações da vida, nada possam para tornarmos melhores e mais sábios. Não condene à humanidade a desgraça tal que, havendo já encontrado meios de amansar os instintos dos animais e ampliar a sua inteligência, não tenhamos influência suficiente sobre nós mesmos para aprender a virtude. Ao contrário, convença-se de que os cuidados e a educação têm grande poder para aprimorar a nossa natureza. Chegue-se aos homens mais sábios entre os que o rodeiam; convide a entrar os que você puder atrair e não tolere desconhecer qualquer um dos poetas célebres ou dos filósofos estimados. Seja ouvinte daqueles, seja discípulo destes; prepare-se para ser o juiz dos menos habilidosos e o rival dos mais esclarecidos. Com a ajuda de tais exercícios, logo se tornará tudo o que deve ser, em nossa opinião, um rei destinado a reinar com justiça e governar com sabedoria. Encontrará em si poderoso motivo de emulação, se julgar contrário à razão o fato de o mal reinar sobre o homem de bem e o insensato mandar no sábio; e você terá tanto mais zelo em exercer a sua inteligência quanto mais desprezo sentir pela incapacidade dos outros.
5.   Por aí devem começar os que se destinam a governar bem; além disso, devem ser amigos da humanidade e amigos da sua pátria. Os homens, os cavalos, os cães, os seres de toda natureza não podem ser dirigidos a contento se a afeição não preside aos cuidados de que são objeto. Por isso, dedique-se ao povo e, sobretudo, a fazê-lo gostar da sua autoridade, convicto de que, entre todos os governos, sejam eles oligárquicos ou de outra natureza, os mais duradouros são os que melhor sabem resguardar os interesses do povo. Você exercerá ao povo nobre e útil influência se não permitir que insulte qualquer pessoa, nem que seja insultado; e se, reservando sempre as honras aos mais dignos, cuidar de proteger os outros cidadãos contra a injustiça. Esses são os primeiros princípios, os princípios mais essenciais do bom governo. Elimine e modifique as leis e costumes viciosos; empenhe-se, sobretudo, em descobrir as leis mais convenientes para o seu país ou, pelo menos, imite as de outros povos que sejam reconhecidamente boas.
6.   Procure leis que sejam globalmente justas e úteis, leis que se acordem entre si, leis tais que os processos escasseiem e sejam prontamente dedicados. As leis, para serem boas, devem satisfazer todas essas condições. Faça com que as transações sejam vantajosas e prejudiciais os processos, de sorte que os cidadãos evitem estes e corram para aquelas. Nos diferendos surgidos entre particulares, dê sentenças que não sejam ditadas pelo favorecimento, nem contraditórias entre si, e decida sempre da mesma maneira em casos semelhantes. Interessa tanto à utilidade pública quanto à dignidade real serem imutáveis as sentenças do rei e sabiamente feitas às leis.
Administre o seu reino como se administrasse a herança recebida do seu pai. Seja magnífico e régio em todas as suas disposições e tenha cuidado e rigor em arrecadarem impostos, para brilhar sobre maneira e poder arcar com todas as suas despesas. Nunca exteriorize a sua magnificência em profusões efêmeras, mas sim nas coisas que lhe apontamos, na suntuosidade dos seus palácios e nos favores que dispensa aos seus amigos. Usando das suas riquezas dessa maneira, conservar-lhes-á os frutos e deixará àqueles que lhe sucederem vantagens mais valiosas que os tesouros despendidos com nobreza.
Cultue devidamente os deuses, seguindo os exemplos deixados pelos seus ancestrais; creia, no entanto, que o mais belo sacrifício, a homenagem maior, será mostrar justo e virtuoso. O homem animado desses nobres sentimentos pode contar com o favor divino, mais do que aquele que imola muitas vítimas.
7.   Honre os seus parentes mais próximos com funções de prestígio e entregue os empregos que conferem poder de fato aos seus amigos mais dedicados.
Considere que a sua melhor garantia de segurança é a virtude dos seus amigos, a boa vontade dos seus concidadãos e a sua própria sabedoria: com a ajuda desses recursos é que se pode adquirir o poder e conservá-lo.
Zele pela maneira segundo a qual os cidadãos administram a própria fortuna; veja aqueles que esbanjam como homens pródigos da fortuna real e creia que aqueles que se enriquecem pelo próprio trabalho estão acrescendo os tesouros do rei. A fortuna dos cidadãos faz a riqueza dos reis que governam sabiamente.
Demonstre, por todos os aspectos da sua vida, tal respeito pela verdade que as suas palavras inspirem mais confiança que as juras dos outros homens.
Ofereça a todos os estrangeiros asilo em sua cidade e faça com que eles encontrem, em todas as transações, respeito às leis. Prefira, àqueles que lhe trazem presentes, os que desejam recebê-los de você. Os favores que você fizer aumentarão sua fama.
Expulse o terror do seio do seu povo e não permita que o inocente seja levado a temer, pois os sentimentos que você inspirar aos seus concidadãos, você também há de senti-los em relação a eles.
Não faça nada com cólera, mas mostre-se irritado quando a ocasião o exigir.
Seja temível por exercer implacável vigilância; seja indulgente, impondo sempre castigos que ficam aquém das faltas.
Faça respeitar a sua autoridade, não pela dureza no comando ou pelo rigor dos suplícios, mas sobrepondo-se aos outros homens pela sabedoria e deixando-os convictos de que você lhes dá mais segurança do que teriam por meios próprios.
Prove ser um rei belicoso, pela ciência da guerra e pelo aparato bélico, demonstre ser um príncipe amigo da paz, pela sua aversão a qualquer expansão injusta.
Comporte-se com os Estados mais fracos como gostaria de ser tratado pelos Estados mais poderosos.
Não suscite contestações sobre toda espécie de assunto; atenha-se àquelas que, se ganhas, podem trazer-lhe alguma vantagem.
Não olhe com desprezo os que sucumbem atingindo um resultado útil, mas sim aqueles que obtêm uma vitória prejudicial aos próprios interesses.
Creia que a grandeza de alma não está nos homens que empreendem mais do que podem executar, mas naqueles que, perseguindo com ardor o que é nobre e grande, podem executar o que empreendem.
Não entrem em rivalidade com os homens que estenderam sua potência aos confins, mas com os que melhor a usam; creia que será feliz, não mandando a todos os homens em meio a terrores, perigos e sofrimentos, mas, sendo o que deve ser e atuando como atua hoje, tendo apenas desejos moderados, sempre coroados de sucesso.
8.   Não admita como amigos seus todos aqueles que desejarem a sua afeição, mas apenas os que são dignos de obtê-la; não aqueles cuja companhia lhe seja mais agradável, mas sim os que melhor poderão ajuda-lo a governar o seu país com sabedoria .
Mantenha-se sempre informado sobre o valor das pessoas que o odeiam, sabendo que os que não podem aproximar-se de você o julgarão igual aos homens que privam da sua intimidade.
Ao escolher quem deva encarregar-se de negócios que não administra pessoalmente, nunca perca de vista que você é quem arcará com a responsabilidade dos seus atos.
Considere os mais fiéis amigos, não aqueles que aprovam todas as suas palavras e elogiam todas as suas ações, mas sim os que censuram os seus erros.
Permita que as pessoas sábias expressem a sua opinião, para ter, nas questões delicadas, conselheiros que possam proficuamente examiná-las com você.
Saiba distinguir os cortesãos, que adulam com arte, dos amigos, que servem por devoção, para não dar mais crédito aos maus do que aos homens virtuosos.
Ouça o que os homens dizem uns dos outros e procure ter luzes tanto sobre os que falam quanto sobre aqueles de quem se fala.
Castigue os caluniadores com as penas em que incorreriam os culpados.
Não tenham menos domínio sobre você mesmo do que sobre os outros homens; creia que não há nada mais régio do que libertar-se do jugo das suas paixões e seja ainda mais senhor dos seus desejos do que dos seus concidadãos.
Não crie vínculos com pessoa ao acaso e sem reflexão, mas acostume-se a ter prazer nas conversas que aumentam a sua sabedoria e reputação.
9.   Não procure destacar-se nos atos que homens viciosos podem realizar como você; tenha orgulho da virtude, na qual não podem ter parte os maus.
Medite que as verdadeiras honras não residem nas homenagens prestadas publicamente e inspiradas pelo receio, mas nos sentimentos daqueles que, na intimidade da família, admiram mais a sua sabedoria do eu a sua fortuna.
Caso você goste de algo frívolo, oculte essa franqueza ao público mostre-lhe apenas o seu zelo por aquilo que é nobre e grande.
Não creia que ter uma vida decente e honesta equivalha a participar de algo vulgar e que viver na desordem seja privilégio dos reis. Ofereça a regularidade da sua vida como modelo para os seus concidadãos e não esqueça que os costumes dos povos se formam a partir dos costumes dos homens que os governam.
Você terá uma prova da sabedoria do seu governo se vir que as suas diligências garantiram mais riqueza e costumes mais honestos aos povos sobre os quais reinou.
Prefira deixar aos seus filhos um nome glorioso do que grandes riquezas. As riquezas são perecíveis, a glória é imortal. As riquezas podem ser adquiridas pela glória, a glória não se compra com riquezas. As riquezas são, às vezes, compartilhadas pelos maus, mas a glória só pode ser adquirida por homens de virtude superior.  
Tenha magnificência no vestir e em tudo que possa contribuir para o brilho da sua personalidade, mas seja simples e austero no resto dos seus costumes, como convém aos que governam, para que os que vêem a magnificência à sua volta o creiam digno de reinar, e que os que se aproximam de você, vendo a força da sua alma, formem a mesma opinião.
Esteja sempre disciplinando as suas palavras e atos, para cometer o menor número possível de faltas.
O mais importante, nos negócios, é perceber qual o ponto de que depende o êxito; como esse ponto é difícil de identificar, é melhor não atingi-lo que passar dele. A verdadeira sabedoria fica aquém do objetivo, em vez de passar além.
10. Procure unir a polidez à gravidade. A gravidade convém à potência soberana; a polidez é o ornamento da sociedade. Este duplo preceito é, de todos, o mais difícil de observar; quase sempre, os que afetam gravidade incorrem em frieza, e quem procura ser educado pode parecer humilde e rasteiro. É preciso, reunindo as duas qualidades que indicamos, evitar a desvantagem inerente a cada uma delas.
Se quiserem aprofundar os conhecimentos que convém aos reis, junte a experiência à teoria; a teoria lhe mostrará o caminho e a experiência lhe permitirá andar com passos firmes nesse caminho.
Pense nas vicissitudes e desgraças que afetam os particulares e os reis, as lembranças do passado reforçarão a sabedoria dos seus conselhos para o futuro.
Fique convicto que, quando simples particulares aceitam sacrificar a sua vida para serem louvados após a sua morte, é uma vergonha, para os reis, não terem a coragem de destacar-se por atos que lhes dêem, vida fama honrosa.
Faça com que as suas estátuas permaneçam como monumentos à sua virtude, mais do que como lembrança da sua pessoa.
Antes de tudo, esforce-se por garantir a sua segurança e a do seu reino; mas, se houver que enfrentar perigos, prefira morrer com glória a viver na vergonha.
Em todas as suas ações, lembre que você é rei e tenha todo o cuidado para não fazer nada que seja indigno dessa posição suprema.
11. Receie morrer por inteiro e, já que recebeu da natureza um corpo perecível e uma alma imortal empenhe-se em deixar da sua alma uma lembrança que não morra.
Habitue-se a falar de costumes e ações honrosas, para nutrir, no seu coração, sentimentos condizentes com o objeto das suas conversas. Aquelas coisas que lhe parecem melhores quando está refletindo só, realize-as nas suas ações.
Imite os homens cuja glória excita a sua emulação.
Os conselhos que você daria aos seus filhos creiam que é digno você também segui-los.
Faça uso dos preceitos que lhe ofereço, ou procure achar outros, melhores.
Considerem sábios, não os homens que empreendem discussões minuciosas sobre temas frívolos, mas os que tratam com habilidade das questões importantes; não os que prometem a felicidade aos outros, vivendo na miséria, mas os que, falando com reserva do que lhes diz respeito, são capazes de tratar utilmente homens e negócios e, sem nunca serem afetados pelas vicissitudes da vida, sabem passar pela boa e má fortuna com a mesma nobreza e moderação.
12 E não estranhem haver, nas coisas que eu lhe disse, muitas já conhecidas de você; este ponto não me escapou. Não estava eu sem saber que grande número de particulares e príncipes já tinha formulado partes destas verdades, que outros as tinham ouvido proclamar, outros as tinham visto sendo aplicadas e outros, ainda, já as estavam aplicando por conta própria. Mas não é nos discursos destinados a expor regras de conduta que se devem procurar idéias novas. Nesses discursos, não há lugar para qualquer coisa paradoxal, ousada, contrária às idéias estabelecidas, e quem é capaz de reunir o maior número de verdades espassas nos pensamentos dos homens para apresentá-las da forma mais eloqüente deve ser visto, entre todos os escritores, como o mais digno de agradar. Tampouco me ignorava que, entre todos os discursos e escritos, em prosa e verso, os que têm por objetivo oferecer conselhos são universalmente considerados os mais úteis, por quem os escuta, porém não os mais agradáveis. Tem-se para com eles o mesmo sentimento reservado aos homens que se prezam de dar conselhos: todos os louvam, mas ninguém os procura, e preferimos a companhia dos que compartilham os nossos erros à dos que nos demovem de cometê-los. Poder-se ia, em apoio do que digo, citar as poesias de Hesíodo, de Teógnis e de Focilides. Esses grandes homens são proclamados os melhores conselheiros da vida humana, mas aqueles mesmos que o declaram preferem gastar o tempo em conversas frívolas a nutrir-se coma as suas sábias doutrinas. Ainda mais, se alguém escolhesse, nas obras dos maiores poetas, os trechos trabalhados com mais esmero, e que são chamados de máximas, essas máximas seriam acolhidas com a mesma disposição, sendo sempre a comédia mais fútil ouvida com mais prazer do que o são preceitos elaborados com arte tão perfeita.
13. Aliás, haverá necessidade de deter-nos em cada objeto? Se quisermos examinar no geral a natureza dos homens, veremos que, em sua maioria, não se sentem atraídos pelos alimentos mais sadios, nem pelas ocupações mais nobres, nem pelas melhores ações, nem pelos preceitos mais úteis; veremos que procuram os prazeres mais contrários aos seus interesses e consideram modelos de constância e energia homens que só cumprem com alguma parte dos seus deveres. Como se poderia agradar a semelhantes ouvintes, dando-lhes conselhos, instruções ou avisos úteis, se, além de tudo o que dissemos, atormentam os homens sábios com a sua inveja e julgam que os insensatos são apenas homens simples e abertos? Tão longe da verdade estão eles que ignoram até os assuntos que lhes dizem respeito; irritam-se quando têm de tratar quando tem de tratar dos seus próprios interesses; só gostam de discutir os interesses de outrem e submeteriam o próprio corpo a torturas de todo tipo antes de exercer o espírito no trabalho e dedicar atenção a alguma coisa necessária. Reunidos, trocam escárnios e insultos. Se estão sós, você não os encontrará refletindo, mas afagando desejos quiméricos. Não digo isso de todos os homens: digo-o daqueles que têm os defeitos que apontamos.
Destarte, é evidente que os que desejarem escrever, seja em verso ou em prosa, de forma a agradar à multidão, não devem prender—--se às verdades mais úteis mas, antes, às ficções mais maravilhosas. A multidão aprecia tais relatos, comove-se vendo lutas e combates. Por isso, devemos admirar o gênio poético de Homero e dos primeiros inventores da tragédia; tendo avaliado a natureza humana, deram aos seus relatos as duas formas que acabamos de citar. Homero representou, nas suas ficções, os combates e as guerras dos semideuses; os poetas trágicos leram essas mesmas ficções ao cenário, em relatos e ações, de maneira a tornar-nos ao mesmo tempo ouvintes e espectadores. Em face de semelhantes exemplos, fica evidente, para aqueles que desejam encantar os seus ouvintes, que devem cuidadosamente abster-se de dar avisos ou conselhos, empenhando-se em dizer ou escrever o que acharem mais próprio para agradar à multidão.
14. Apresentei-lhe este quadro pensando que você, que não é homem da multidão, mas a governa, não deve ter os mesmos sentimentos que o vulgo e deve avaliar a relevância das coisas e o valor dos homens pela sua utilidade, não pelo prazer que possam oferecer. Cheguei a tal opinião, sobretudo, após reconhecer que os mestres de sabedoria divergiam quanto aos meios de desenvolver as faculdades da alma, anunciando que tornariam seus discípulos mais sábios e habilidosos usando ora as discussões da dialética, ora os discursos políticos, ora outros meios, mas ficando todos de acordo num ponto: o homem formado por nobre educação deveria ser capaz de tirar, de cada uma dessas fontes, elementos de sabedoria. Assim que é preciso, para julgar com certeza, abandonando as coisas controversas, estear-se no que é admitido por todos e sobretudo, avaliar os homens pelos conselhos que dão em determinadas circunstâncias ou, pelo menos, pelo que dizem em relação a todos os negócios. Por fim você deve rechaçar aqueles que, em relação aos assuntos que lhes dizem respeito, não sabem nada do que é preciso saber: é evidente que aquele que não pode ser útil a si mesmo nunca ensinará sabedoria a ninguém. Ao contrário, outorgue a sua estima e apoio aos homens esclarecidos, aos homens cuja visão alcança além da dos espíritos vulgares, convicto que um sábio conselheiro é o mais útil, o mais régio de todos os tesouros; por fim, creia que os homens que lhe oferecerem mais recursos para cultivar a sua inteligência são os que mais contribuirão para a grandeza do seu reino.
15. Dirigindo-lhe estes conselhos, proporcionados pelas minhas luzes, honro-o com os meios dos quais disponho. Quanto a você, como disse no início deste discurso, não permita mais que lhe tragam esses presentes consagrados pelos hábitos, que você, assim como os outros reis, compra daqueles que os oferecem muito mais caro do que o faria de quem os vende, e prefira dádivas que, muito longe de desgastarem-se com o uso que delas faça, adquiram a cada dia novo valor.

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Aos que gostaram mais ainda e, desejam ler os demais textos do livro, segue o link de acesso completo ao livro CONSELHO AOS GOVERNANTES.


Boa leitura e, ótimas reflexões e aprendizado!
Milene Delian

Transferências Especiais

Essa modalidade de emenda parlamentar foi instituída via Emenda Constitucional 166-A, teve a sua primeira execução no ano de 2020. Trata-s...